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Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia
01
02
03
Quem somos
O Alto Sertão
De sesmaria em sesmaria
04 A civilização dos currais
05 Estória da História
06 Os contornos da Vila de Caetité"
07 Independência ou morte: a posteriori
08 Poder: as "investidas" sertanejas
08 As representações da conquista
01
Quem somos
O MASB é um "museu-processo" voltado ao desenvolvimento humano e social do
território do Alto Sertão da Bahia, sediado em Caetité e com núcleos nas cidades de
Igaporã, Ibiassucê e Guanambi.
A origem do MASB está associada às pesquisas arqueológicas realizadas desde
2009, no âmbito do licenciamento ambiental dos Parques Eólicos da Renova
Energia neste território. Este trabalho identificou um vasto significativo
patrimônio cultural, histórico e arqueológico, que resultou em um extenso acervo,
composto por mais de 20 mil peças.
A inexistência de instituições de salvaguarda resultou na mobilização de diversos
agentes sociais do território para exigir a criação de condições institucionais
favoráveis à criação de um museu para garantir que os achados arqueológicos
permanecessem no local de origem.
Criou-se, assim, o Museu do Alto Sertão da Bahia (MASB), instituição devotada à
manutenção dos acervos, da pesquisa, salvaghuaguarda e comunicação;
aprimorando a contribuição social e histórica para o desenvolvimento social do
Alto Sertão.
02
O Alto Sertão
No cenário das "doações de terras", Garcia d’Ávila que, supõe-se, era filho de Tomé de Sousa, recebeu a sua
porção, a sesmaria. Destaque-se outra extensa propriedade, no Século XVII, foi transformada em morgado: a
Casa da Ponte; cuja formação foi iniciada pelo mestre de campo Antônio Guedes de Brito pelo vice-rei do
Brasil, D. Vasco de Mascarenhas, Conde de Óbidos, em 1663.
Antônio Guedes de Brito e Francisco Dias D’Ávila foram amplamente conhecidos por possuírem inúmeros
currais de gado e atuarem como fornecedores de animais a várias regiões sertanejas e por tomadas de povos
nativos. Esses povos tradicionais foram expulsos de suas terras, dizimados ou escravizados na mesma
medida em que a Coroa Portuguesa se apossava das vastas extensões de terra e as incorporava aos seus
domínios. Ambos tornaram-se proprietários de quase toda a extensão de terras da Bahia, além de terras em
Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Maranhão e Ceará (LIMA, 2016). Eis aqui o fato de
relacionar os sertões – com o início do povoamento de terras arredadas do litoral baiano e do recôncavo – ao
estado da Bahia, da região Nordeste e, portanto, de parte do Brasil.
Desde a Carta de Pero Vaz de Caminha, o termo “sertões” é vinculado às terras distantes. COm o passar do
tempo, adquiriu associações voltadas para a questão da ausência de lei e de ordem; bem como, ao longo do
processo de ocupação, foi adicionado o sentido de terra ignota, desconhecida e perigosa: daí para designar a
parte ainda não incorporada pelo colonizador nos primeiros séculos de colonização.
03 De sesmaria em sesmaria
Dono de inúmeros currais baianos, Guedes de Brito foi um continuador da tradição
portuguesa nas “guerras da conquista”. No sentido de dar continuidade às guerras que
eram movidas contra os povos tradicionais nativos, foi dado o início no que “resultou
numa incomensurável guerra de extermínio”.
Foi assim que os “conquistadores” moveram guerra contra “os tapuias” no sertão da
Bahia. Travava-se assim um combate desigual entre índios, os chamados “gentios
bárbaros”, e os bandeirantes que se destacaram no Alto Sertão em meados do século
XVII, a saber: Diogo de Oliveira Serpa (1651), Gaspar Rodrigues Adorno (1651-1654) e
Tomé Dias Lasso (1656) (NEVES, 2005). A guerra aos índios desde o litoral até o mais
recôndito sertão é fato consumado nas histórias das tomadas de terra e colonização da
Bahia.
Então, estavam debaixo do julgo dos senhores das fazendas da Torre e da Ponte: os
índios, os negros escravizados e os convencionalmente chamados de caboclos que, em
realidade, corresponderia ao mameluco, fruto da miscigenação entre brancos, negros e
índios. Estes e outros povos fizeram parte de um processo de civilização quando, na
primeira metade dos anos quinhentos, Tomé de Souza fez chegar à província da Bahia as
primeiras cabeças de gado vacum.
04 A civilização dos currais
Existe a ideia de que o gado, que tomava o litoral da então província e depois o Recôncavo,
inicialmente veio para ajudar na lida dos canaviais, “no giro das almanjarras dos engenhos
ou no gemer lamuriento das cantadeiras dos carros-de-bois” (FARIA, 1969). Só depois é que
veio a se iniciar o aproveitamento do gado: leite, carne e couro já que as “ricas terras da
costa” eram para as plantações de cana-de-açúcar.
Foi de "parição em parição", que o gado “infestou” a costa da província da Bahia: começou a
se multiplicar e “invadir” os canaviais – pressupondo a destruição das plantações de cana
que, nesse sentido, eram sinônimo de danos econômicos.
Muito longe de ser, meramente, uma tentativa de ocupação arredada do litoral, o
conveniente era deixar os campos das lavouras livres para o cultivo da cana-de-açúcar. Com
isto, não há razão para florear as palavras: fez-se necessário criar o gado longe da civilização
enquanto, em marcha e lentamente, em meio a diferentes condições hostis como, por
exemplo, o da vegetação e o clima, outra civilização, a pecuarista, ia sendo criada.
A marcha mugida ia, assim, sendo aboiada e “tocada para longe” do litoral e do recôncavo.
É neste "cenário pátrio" que os vaqueiros são os protagonistas
responsáveis pela lenta marcha e aboio pelos sertões, pela
civilização do couro e depois pastoreio. Durante a ocupação de
gado nos sertões do Nordeste brasileiro, os senhores de engenho
cuidavam do cultivo e administração econômica da cana-de-açúcar;
o vaqueiro passou a ser priorizado para o cuido dos animais.